Inovação na Filarmônica.

Fundada em 1882, a Filarmônica de Berlim é uma das mais conceituadas orquestras do mundo. Sua fama foi catapultada nos 35 anos em que foi regida pelo maestro austríaco Herbert von Karajan, morto em 1989. Sob seu comando, a Filarmônica de Berlim colocou-se na vanguarda da popularização da música clássica. Conta-se que Karajan teve participação decisiva no formato final do CD. Segundo a lenda, a capacidade de memória dos primeiros CDs foi estendida para 74 minutos de música por exigência do maestro - só assim um disco poderia conter a Nona Sinfonia de Beethoven inteira. O maestro e sua orquestra acabaram vendendo centenas de milhões de CDs no mundo inteiro. Vinte anos após a morte de Karajan, a Filarmônica de Berlim aparenta manter sua vertente popularizadora. Desta vez, a plataforma escolhida é, claro, a internet. Em janeiro, entrou em operação a transmissão ao vivo dos concertos da orquestra. Basta ter um computador com uma conexão decente à internet para ser possível ver e ouvir em casa o que se passa na Philharmonie, sede da orquestra, no centro de Berlim. "Estamos inaugurando uma nova era não só para a música clássica mas também para a história da distribuição da música", disse a revista EXAME Tobias Möller, diretor da Filarmônica de Berlim e organizador do projeto.
A orquestra oferece aos interessados três pacotes básicos. O mais simples deles custa 9,90 euros (cerca de 30 reais) e dá direito a um concerto ao vivo. Por 48 horas, o interessado terá acesso ao arquivo digital da orquestra, com exibições antigas. O segundo pacote, que oferece os concertos do restante da temporada 2008-2009, sai por 89 euros, ou cerca de 270 reais. E o terceiro, que custa 149 euros (cerca de 450 reais), vale para os 30 concertos da temporada 2009-2010, que começa em agosto. As transmissões são feitas por câmeras comandadas por controle remoto. A ideia surgiu há três anos, mas só em meados do ano passado os organizadores sentiram-se confiantes na capacidade de transmitir vídeo e áudio na alta qualidade desejada - recomenda-se, inclusive, ligar o computador no aparelho de home theater. Para a apresentação de estreia, no dia 6 de janeiro, a orquestra regida pelo inglês Simon Rattle tocou a Primeira Sinfonia do compositor alemão Johannes Brahms. Foram vendidos 2 500 ingressos para espectadores via internet - 100 a mais do que a capacidade do teatro-sede da orquestra.

Confira o site da sinfônica aqui.
O projeto da Filarmônica de Berlim segue uma trilha aberta pela mais tradicional casa de ópera dos Estados Unidos, o Metropolitan de Nova York. Há pouco mais de dois anos, a instituição começou a exibir ao vivo suas apresentações em salas de cinema nos Estados Unidos. No primeiro ano, 98 salas mostraram seis produções a um público de 325 000 pessoas. Já em 2008, foram 11 espetáculos exibidos em 850 salas de 28 países, com uma plateia de 1,2 milhão de pessoas. Hoje, cada apresentação conta com um público de cerca de 100 000 pessoas nos cinemas, enquanto no próprio Met cabem apenas 3 700 espectadores. A partir do dia 1o de fevereiro, o Brasil vai entrar nesse circuito. Aqui, a exibição começará em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas, segundo os organizadores, as transmissões logo se estenderão a outras 20 cidades. Nos primeiros seis meses, no entanto, as apresentações serão gravadas, e não ao vivo. As sessões serão noturnas e sempre aos domingos, às segundas e às terças-feiras. A ópera que abre o projeto é La Rondine, de Puccini. "Para transmitir as óperas ao vivo, devido ao fuso, seríamos obrigados a exibi-las aqui às 14 horas de sábado, um horário ingrato", diz Fábio Lima, sócio- fundador da MovieMobz, empresa responsável pelo projeto no Brasil. Os ingressos custarão até 30% mais que uma entrada de cinema.
Virou chavão no último século jogar pedras nos meios de comunicação de massa - responsáveis, segundo a teoria, pelo emburrecimento geral da população mundial. Iniciativas como as transmissões da Filarmônica de Berlim e do Metropolitan, porém, mostram que a realidade é, como sempre, bem mais complexa. O enorme interesse do público é uma prova de que a demanda pelas artes tidas como "de elite" é maior do que os mais pessimistas imaginavam. Nos últimos oito anos, o número de visitantes aos museus da Inglaterra quase dobrou. E a plataforma encontrada pelos maiores museus do mundo para atender a esse interesse crescente é, de novo, a internet. No início do ano, o Museu do Prado, em Madri, criou, em parceria com o Google, uma ferramenta por meio da qual é possível analisar as 15 maiores obras-primas de sua coleção - em altíssima resolução, 1 400 vezes maior do que a de uma foto digital. Estão lá, entre outras, o Jardim das Delícias, do holandês Hieronymus Bosch, e obras de Rubens e Velázquez. Outros museus devem seguir caminho semelhante. "A internet nunca vai substituir uma visita pessoal, mas a demanda por ingressos na sala de concerto é sempre maior do que podemos atender", diz Möller, da Filarmônica de Berlim. "Iniciativas como essa são uma espécie de compensação." Fonte: revista Exame.

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